por Pedro Luso de Carvalho
Nos dias atuais, o brasileiro surpreende-se com as notícias que recebe pelos meios de comunicação sobre desvio de conduta, na sociedade brasileira, de muitos de seus representantes, os políticos, a partir do Congresso Nacional, descendo para outras casas legislativas de muitos Estados-Membros do país, atingindo, por fim, tais atos contrários à lei e à ética, as camaras de vereadores, em muitos de seus municípios.
A estupefação do povo, pelo que ocorre no Brasil, também no Poder Judiciário, o deixa desesperançado, já que este poder era o seu último alento; juízes de direito, de primeiro e segundo grau, também aparecem nesse cenário de degradação moral, sem falar no que se passa com o Poder Executivo, no qual não se tem parametro para ser medido o comprometimento com o crime de muitos de seus servidores, em todos os seu escalões.
E, para tristeza e decepção dos bons advogados, estes vem colegas seus denunciados pela prática de crimes contra os quais deveriam estar denunciando, em defesa da sociedade; daí ter-me lembrado dos ensinamentos de um dos grandes processualistas sul-americano, o uruguaio Eduardo Juan Couture (1904-1956), nome conhecido em muitos países, professor de Processo Civil, Decano da Faculdade de Direito de Montevidéu, autor do projeto do Código de Processo Civil do Uruguai (1945), e autor, ainda, de Fundamentos do Direito Processual Civil e de Os Mandamentos do Advogado; deste, transcreveremos o seu 10º Mandamento, qual seja, Ama a tua profissão, como segue:
“Seja-nos permitido ilustrar o último mandamento com uma parábola. Conta Péguy que um dia ficou impressionado vendo sua mãe consertar uma cadeira. Era tal o esmero, o escrúpulo, a amorosa atenção, com que executava sua tarefa, que o filho manifestou-se admirado. A mãe, então, lhe disse: o amor pelas coisas bem feitas deve acompanhar-nos por toda a vida; as partes invisíveis das coisas devem reparar-se com o mesmo escrúpulo com que se cuidam as partes visíveis; as catedrais de França são as catedrais de França porque o amor com que se fez o ornamento externo é o mesmo amor com que foram feitas as partes invisíveis.
Isso mesmo acontece em todos os atos da vida. O amor à profissão eleva-a a dignidade de uma arte. O amor por si só transforma o trabalho em criação; a tenacidade, em heroísmo; a fé, em martírio; a concupiscência, em nobre paixão, a luta, em holocausto; a cobiça, em prudência; o lazer, em êxtase; a idéia, em dogma; o amor-próprio, em sacrifício; a vida, em poesia.
Quando o advogado chega a ponto de aconselhar seu filho, no dia decisivo em que deve orientá-lo sobre seu futuro, que siga sua própria profissão, é porque encontrou nela algo mais que um simples ofício. Ofício, queremos para nós mesmos; mas para nosso filho almejamos, se possível, a glória.
Coloquemos, nesse dia, a mão sobre seu ombro, e digamos-lhe: procura aqui, meu filho, o bem e a virtude que almejo para tua vida; e, sobretudo, faz pela defesa de teus semelhantes, na causa da justiça, tudo aquilo que eu quis fazer e a vida não me permitiu!
REFERÊNCIA
COUTURE, Eduardo. Os Mandamentos do Advogado. Tradução de Ovídio Baptista da Silva e Carlos Otávio Athayde. Sérgio Antonio Fabris Editor, Porto Alegre, 1979, p. 71-73.
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